Mensagem de Yoshi Oida pelo Dia Mundial do Teatro para a Infância e Juventude 2020
Tradução: Cleiton Echeveste (CBTIJ/ASSITEJ Brasil)
“Desde que nasci, eu cresci imitando meus pais o tempo todo. Como andar, como comer e como falar; eu aprendi tudo isso imitando meus pais. Então, quando eu fiquei velho o suficiente para entender as coisas, levado pelos pais eu aprendi a ir ao teatro. O teatro era para mim, o país mágico. A primeira coisa que você vê quando entra no teatro é uma cortina fechada. Lembro-me de que esperei a cortina se abrir com uma enorme expectativa, imaginando o que havia por trás daquela cortina. Quando a cortina finalmente se abriu, havia um mundo de sonhos criado por um cenário, iluminação e figurinos. Às vezes, era algo criado exatamente como no mundo real e, outras vezes, era uma paisagem impossível no mundo real. Havia artistas em vários disfarces, chorando, rindo, cantando e dançando. E durante o intervalo, ouvimos sons de batidas e barulhos. Se era um teatro pequeno, e eu estava sentado na primeira fila, consegui levantar a cortina para espiar lá dentro. Surpreendentemente, uma cena estava sendo mudada em um instante por um grande cenário que foi virado e puxado para trás. Depois, em casa, eu imitava o ator. O meu papel favorito era o de samurai. Desenhava sobrancelhas masculinas, fazia uma peruca e brincava com meus amigos usando espadas de bambu. Quando eu estava no 7º ano, comecei a fazer modelos em escala de um cenário, um palco giratório, um palco montado com luzes feitas de lâmpadas em miniatura…. E, é claro, tentei fazer mudanças de cena com ele.
A partir dessas experiências, acabei entrando em uma companhia profissional de teatro. Mas, naquela época, não havia escola de teatro contemporâneo. Fui então a um mestre do teatro convencional e aprendi técnicas de teatro convencionalmente transmitidas. Aprender o teatro convencional significa imitar tudo o que o mestre faz e fazer um esforço para ser exatamente como o mestre. Então, um dia, inesperadamente, ganhei a chance de fazer um trabalho com Peter Brook. A primeira lição que tive com ele foi sobre improvisação, que eu nunca havia experimentado. Apesar de me terem dito para improvisar, eu não tinha ideia do que fazer, então comecei a fazer movimentos combinando todos os movimentos convencionais que havia aprendido no Japão. Mas um dia, Brook fez uma observação: “Não imite o teatro convencional japonês”. Impactado com o que ele disse, senti como se tivesse sido jogado sozinho no grande oceano. Eu não tinha nada em que confiar e era como um navio naufragado simplesmente flutuando à deriva. Mas foi nesse momento que comecei a pensar em criar pela primeira vez. Percebi que meu trabalho não era simplesmente reproduzir o que existia no passado da maneira que o teatro convencional faz, mas criar minhas próprias expressões. E criar não é criar algo do nada, como Deus, mas imitar o que já existia e ir além. Van Gogh foi influenciado por Ukiyoe, Picasso criou suas próprias pinturas inspiradas nas artes africanas e Miró recebeu sugestões dos personagens chineses; tudo foi desenvolvido a partir do que já existia.
O caminho que segui é provavelmente o mesmo. Minha vida era imitar o que eu via e ouvia no teatro e depois me esforçava para ir além disso. E essa experiência me levou a encontrar uma maneira de viver, passando pelo teatro e indo além dele.”
Yoshi Oida
Ator, diretor e escritor. Nasceu em Hyogo e m1933. Atualmente reside em Paris, na França. Começou sua carreira como um ator no Bungakuza e na companhia de teatro Shiki. Desde 1970 trabalhou com Peter Brook no CIRT (Centro Internacional de Pesquisa Teatral). Atuou em “Mahabarhata”, “A tempestade” e “O Homem que”, dirigidos por Brook; “Shunkin”, dirigido por Simon McBurney e muitas outras. Também dirigiu diversas peças e óperas. Seu livro “Um ator errante”, publicado em 1989, foi traduzido em 17 línguas e é considerado um “bíblia do ator” em todo o mundo. No Brasil, o livro foi lançado em 1999 pela Editora Beca (SP). Recebeu as seguintes distinções do governo francês: Chevalier de l’Ordre et des Lettres (1992), Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres (2007) e Commandeur de l’Ordre des Arts et Lettres (2013).